9 de setembro de 2010

Salários atrasados

O recente noticiário sobre atraso no pagamento dos jogadores do Palmeiras merece uma reflexão sobre como o tema é tratado e se até que ponto isso influi no desempenho do time.

É triste ver com que leviandade tais atrasos são encarados. Começa com os dirigentes que depois de negarem sua existência, vêm com a maior cara de pau dizer que isso é comum no futebol brasileiro. Se é tão comum por que ocultar e apenas confessar quando não podem mais esconder o fato? E se todos os clubes cometem o mesmo delito este fica menos relevante? Sou menos mau por que os outros também são maus? Bela lógica. Torcedores não ficam atrás no afastamento da realidade, chegando a acusar os jogadores de mercenários pela "audácia" de cobrarem o que lhes é de direito. Será que também se considerariam mercenários se seus patrões também lhes atrasassem os salários? É incrível até que ponto chega a falta de inteligência de um ser humano.
Atrasar vencimentos e não cumprir compromissos assumidos é falta de capacidade administrativa, quando não de administração fraudulenta. E achar isso normal é simplesmente falta de caráter.

E como os jogadores reagem a isso? Não há reação coletiva. Cada um reage conforme suas necessidades, momento de carreira, pressão familiar e outros fatores. Mas a tendência natural é de continuarem a se empenharem em campo, até por que precisam seguir com suas carreiras em outros clubes, que de preferência lhes paguem. Jogar mal ou entregar uma partida apenas os prejudicariam no seguimento da profissão. Daí precisarem seguir se empenhando e torcer para serem notados por outra equipe. Este comportamento natural, esperado e até necessário por parte dos jogadores somente torna ainda mais imoral os sistemáticos atrasos em seus vencimentos. "Ah, mas os jogadores dão entrevistas dizendo que está tudo bem", apressam-se em lembrar os mais ignorantes. Além da sua própria dose de falta de caráter, estes jogadores não têm muita saída, pois se não fazem este papel ridículo correm o risco de ficar no último lugar da fila para receberem o que lhes é devido.

Mas então nada disso afeta o desempenho do time? A probabilidade maior é que sim afete. Afinal, perde-se a comunhão entre atletas e dirigentes, perde-se união em campo, perde-se o tipo de moral que forja grupos vencedores. Ainda mais quando as desculpas pelos atrasos nos salários são acompanhadas de contratações milionárias, e com salários idem. Se não tem como pagar os compromissos já assumidos, de onde veio o dinheiro para as contratações e como assumir uma folha de pagamento ainda mais elevada? É claro que isso passa imediatamente pela cabeça dos jogadores. Ainda mais quando um dos dirigentes vem a público criticar a oposição pela não aprovação das contas (fraudadas) do clube. "O futebol apresentou superávit", disse o apalermado dirigente. "Então por que não me pagam", devem ter se perguntado os estupefatos jogadores.