17 de outubro de 2008

Número de faltas e o futebol nacional

Outro dia escutei uma discussão sobre futebol na ESPN Brasil onde um comentarista defendia as punições impostas pelos tribunais de justiça desportiva e dizia-se cansado de escutar “essa história de que futebol é jogo de contanto”. Também é comum escutar afirmações como “tal juiz deixa o jogo correr porque não marca qualquer falta”. Mas não é nada disso! Este tal juiz não marca os contatos que não são faltas! Durante as transmissões das partidas, e nos debates que se seguem, as discussões sobre interpretações de lances são intermináveis, acerto e erros da arbitragem tomam a maior parte dos comentários. Isso não é normal. O que está acontecendo com o nosso futebol?

O avanço tecnológico propício o aprimoramento de captação das imagens de diversos ângulos e com maior nitidez. Com isso os naturais erros da arbitragem ficaram mais evidentes quando se quer destacar isso. Não é que a qualidade das arbitragens no Brasil mudou (ela continua medíocre como sempre), o que mudou foi a possibilidade da televisão expor os erros dos juízes para deleite de narradores e comentaristas que assim conseguem gastar horas enchendo nossos ouvidos de bobagens. Mas tudo isso é apenas mau jornalismo. O fato pertinente é que o número de faltas por jogo é realmente elevado.

Mas basta assistir a transmissão dos jogos dos principais campeonatos europeus para ver o quanto de exagero existe por aqui. Lá o número de faltas é muito menor. Posso enumerar uma série de problemas levam ao excessivo número de faltas no futebol brasileiro: (a) começa com a baixa qualidade das arbitragens que na dúvida preferem marcar falta, (b) os jogadores percebendo a fragilidade dos árbitros e cientes de suas deficiências técnicas preferem simular falta do que tentar a jogada, (c) a imprensa e torcida gostam de enaltecer a malandragem do jogador que consegue ludibriar o juiz, e (d) a imprensa há muito tempo embarcou na besteira do politicamente correto, adora pousar de bom-moço defensor do suposto fair play e acaba vendo falta em qualquer lance.

Mas o destaque que o tema ganha na imprensa tem outra causa além da já conhecida mediocridade dos ditos profissionais da mídia. A verdade é que a qualidade do futebol jogado no Brasil está alcançando nível alarmantemente baixo. Na falta de virtudes a serem exaltadas, a imprensa dedica-se a discutir arbitragem, tribunais e outras fofocas. Há evidentes sinais da queda do futebol por aqui. Quando poderíamos imaginar que estrangeiros como Tevez e Valdivia seriam considerados os melhores jogadores atuando no Brasil? Quem diria que um desconhecido uruguaio em fim de carreira como Acosta seria artilheiro no Brasil e desejado por clubes grandes? Notaram como jogadores veteranos em fim de carreira (Romário e Edmundo são casos emblemáticos) tiveram prazo de validade estendido por aqui? Alguém se encantou com o futebol mostrado pelo São Paulo no seu recente bi-campeonato, ou admira a bola jogada pelos atuais líderes da Série A?

Futebol é jogo de contato sim. Não tem dada de errado com esta afirmação, é uma constatação óbvia. A violência em campo é causada pela debilidade dos árbitros. Caso marcassem corretamente o que realmente é falta, os jogadores diminuiriam as tentativas de simulação e jogo ganharia em qualidade. E a imprensa tem que destacar o que encontrar de qualidade ao invés de seguir o caminho fácil da polêmica. Se a imprensa deseja criticar (e deve), então discuta as melhorias que devem ser implementadas para melhorar nosso futebol, e não apenas jogar mais lenha na fogueira da mediocridade.