Existem três momentos que estão perdendo seu sentido original em uma partida de futebol: execução do hino nacional, minuto de silêncio e fair play.
Alguns estados, incluindo São Paulo, promulgaram uma lei que obriga a execução do hino nacional antes dos eventos esportivos. Será que quando aprovaram a lei os políticos pensaram que assim os torcedores ficariam mais consciente de seus deveres como cidadãos? Alguém tem que informá-los que um exemplo de honestidade e decência da parte deles seria muito mais produtivo. É comum ver os times perfilados em campo enquanto o hino é executado, ao passo que a torcida segue com seus cantos de incentivo à equipe ou simplesmente ignora o hino. Nada mais natural visto que o evento não demanda a execução do hino nacional como poderia ser uma partida da seleção, onde todos estão lá para torcer pelo time que representa a nação. Com isso a execução do hino nacional em praças esportivas virou um ato banal. Menos mal que no Palestra a lei é cumprida sem a palhaçada dos times perfilados em campo.
Minuto de silêncio era uma deferência rara e significativa. Homenageava alguém que era conhecido e respeitado pela maioria das pessoas presentes no estádio, que tinham, assim, um momento para elevar seu pensamento até aquela pessoa. Mas hoje se faz minuto de silêncio em quase todos os jogos e por pessoas que ninguém conhece. Até parente de algum desconhecido com cargo na federação de futebol do estado. É óbvio que a torcida nem dá bola para minutos de silêncio com esta característica. Desrespeito? Não, apenas reação natural à um interesse privado em lugar público.
O que dizer do fair play? Hoje em dia virou sinônimo de chutar a bola para fora quando um adversário está machucado e devolver a posse de bola depois do atendimento. Isso é apenas bom senso e profissionalismo. Esses mesmos jogadores não se acanham de dar pontapés nos adversários e tentam ludibriar a arbitragem todo o tempo. Não tem uma bola que saia pela lateral que ambos os times reclamem a posse de bola. Faltas flagrantes são cometidas e o infrator esbraveja como fosse um anjo. Jogadores simulam agressões como verdadeiros atores. São cada vez mais fragrantes momentos como estes nos jogos no Brasil, e até certo ponto nos campos europeus também. O dito fair play foi totalmente abandonado como resultado da continua degradação das virtudes que toma de assalto o país, combinada com a má qualidade das arbitragens.
Em nome do bom espetáculo de futebol espero que as autoridades abandonem a bobagem do hino obrigatório e sejam inteligentes e criteriosas na definição de quem homenagear com o minuto de silêncio. E que a arbitragem seja revista para tomar medidas disciplinares enérgicas aos atos descritos acima, resgatando, mesmo que na marra, algo de fair play no futebol.