11 de setembro de 2008

Geração de Receita I: Venda de Atletas

Retomando o tema da necessidade de aumentar as receitas geradas pelo futebol hoje escrevo sobre a Venda de Atletas, um dos mais importantes componentes da receita total dos clubes brasileiros (34% em 2007 segundo a Casual Auditores Independentes).

Vimos em postagem anterior (ontem) que no ano passado a Venda de Atletas correspondeu a 32% das receitas do futebol do Palmeiras. Mesmo assim, esta fonte de recursos não tem sido das melhores para o time em função das infindáveis contratações equivocadas e o conseqüente insucesso do time até aquele ano. É natural que equipes fortes e vencedoras valorizem seus atletas e, com isso, consigam vendê-los de forma mais rentável.

O Palmeiras deu um passo correto ao fazer acordo com a Traffic para reforçar o elenco. O time também fez algumas contratações acertadas (Élder Granja, Alex Mineiro, Kleber e Léo Lima), o que não vinha acontecendo antes. O título paulista e a performance no primeiro turno do campeonato nacional são provas disso. O time ficou mais competitivo, ganhou título e vem valorizando seus atletas. A liquidação de Diego Cavalieri, Valdivia e Henrique também demonstram isso. Porém há acertos a serem feitos para otimizar esta relação de parceria e o potencial de vendas futuras dos nossos jogadores.

Em primeiro lugar o Palmeiras deve fazer uso da Traffic apenas para contratar jogadores que hoje estariam fora de seu alcance econômico. Dos 10 jogadores trazidos pela Traffic até aqui (Gustavo, Diego Souza, Henrique, Lenny, Jefferson, Sandro Silva, Jumar, Maicosuel, Moacir e Paulo Miranda) apenas Henrique e Diego Souza estariam acima das atuais condições financeiras do clube. Todos os demais, de custo baixo ou zero, poderiam ter sido contratados pelo Palmeiras sem interferência da Traffic. O recentemente noticiado caso de Cleiton Xavier é emblemático. Um jogador com contrato por vencer e, portanto, de custo zero é trazido pela Traffic e não pelo clube. O Palmeiras arca com os vencimentos do atleta e, no caso de valorização e venda do mesmo, a Traffic fica com 80% do lucro. Que negócio é esse? Para Traffic é um grande negócio, pois o Palmeiras é quem arca com custos (e riscos), é quem valoriza o jogador e fica apenas com as migalhas da transação. É um negócio no mínimo estranho... muito estranho.

Atualmente 12 dos 27 jogadores do elenco principal não tem vínculo com o Palmeiras. Destes 7 são da Traffic (Gustavo, Sandro Silva, Diego Souza, Lenny, Maicosuel, Jumar e Jefferson) e 5 são emprestados e tem vinculo com outros clubes (Kleber, Leandro, Gladstone, Evandro e Thiago Cunha). Os outros 15 tem vínculo com o Palmeiras, são eles: Marcos, Alex Mineiro, Denílson, Martinez, Jeci, Léo Lima, Pierre, Élder Granja, Deola, Fabinho Capixaba, Jorge Preá, Bruno Cardoso, David, Deyvid e Maurício. Destes a maioria tem contrato vencendo no final do ano, outros já não têm idade para serem vendidos e ainda têm alguns cujo valor de venda não ficaria todo com o clube: casos de Martinez, apenas 5% pertence ao clube, e David que teve parte dos seus direitos entregue à Traffic na malfadada Bolsa do Atleta.
Como se vê, é imperativo que o Palmeiras retome um vínculo maior com seus jogadores, caso contrário, vai ver a receita de Venda de Atletas minguar no futuro em favor da sua “parceira”, de empresários e de outros fundos de investimento.

O segundo ponto a ser revisto pelos dirigentes e a Traffic é o momento adequado para vender suas estrelas. Diego Cavalieri foi deixado na reserva, desvalorizando, antes de ser negociado. Henrique foi vendido depois de apenas 26 partidas pelo Palmeiras. E Valdivia, o principal jogador do time, acabou saindo por um valor abaixo de outros menos cotados, vendidos na mesma época, como Diego da Portuguesa, Renato Augusto do Flamengo ou ainda Marcelo Moreno do Cruzeiro.
Com um pouco de paciência estes jogadores poderiam valorizar-se ainda mais, enquanto o time mantinha-se mais competitivo e estimulava outras receitas como bilheteria e venda de camisas.

Outra questão fundamental, e interligada a retomada dos direitos federativos dos atletas, é a produtividade dos investimentos no futebol das divisões de base. Já falei bastante disso em outra postagem (ver
http://quixoteverde.blogspot.com/2008/08/no-financeiramente-combalido-futebol.html) mas é sempre bom reforçar este ponto. O trabalho nas divisões de base ainda deixa muito a desejar, basta contar o número de revelações que temos visto. E as causas deste insucesso são bem conhecidas. Insisto que o trabalho nas bases deve ter prioridade nos investimentos do futebol, mas antes seu comando deve ser entregue a pessoas honestas e competentes. E este não é o caso hoje segundo declarações recentes do goleiro Sérgio e a evidência da falta de revelações.

Resumindo: aumentar a competitividade do time enquanto gradativamente retoma maior percentual dos direitos federativos de seu elenco e revelar jogadores são medidas críticas para aumentar a receita advinda de Venda de Atletas no futuro.