Muitas vezes escutamos dizerem que "o Brasil é um celeiro de craques". Será isso mesmo? Sem dúvida há uma grande quantidade de bons jogadores brasileiros espalhados pela Europa, muito mais do que atuando por aqui. Mas esta quantidade não resulta de uma habilidade nata dos nativos, muito menos da forma como este esporte está aqui organizado. O Brasil revela uma boa quantidade de bons jogadores por razões bem diferentes. A primeira refere-se ao tamanho da nossa população, o Brasil é disparado o país mais populoso entre aqueles que dão relevância ao futebol. Vejamos a população dos nove países mais destacados na história da Copa do Mundo:
Brasil: 203 milhões
Alemanha: 81 milhōes
França: 65 milhōes
Itália: 61 milhōes
Inglaterra: 52 milhoes
Espanha: 47 milhōes
Argentina: 42 milhōes
Holanda: 17 milhōes
Uruguai: 3 milhōes
É natural que surjam no Brasil um maior número de bons jogadores somente em função da nossa maior população. Outros países com populações superiores a do Brasil nem de longe dão a relevância que o brasileiro dá ao futebol. Este é o caso da China, Índia, EUA e Indonésia.
Esta questão da relevância do futebol também favorece o Brasil contra os países onde o futebol tem maior tradição. Com exceção dos também subdesenvolvidos Uruguai e Argentina, todos os outros seis países da lista acima se destacam também em muitos outros esportes. Basta ver o número de medalhas que cada um conquista nas Olimpíadas. Até a minúscula Holanda conquistou mais que o dobro de medalhas de ouro que o Brasil em Beijing.
Ainda há mais um infeliz fator a favorecer o futebol brasileiro. Nosso GDP per capita é o menor daquela lista. Ou seja, diante da incapacidade de gerar riqueza e do falido sistema educacional, um enorme contingente de brasileiros tem na prática do futebol uma de suas únicas chances de alcançar maior conforto material. O que traz um incentivo adicional ao surgimento de mais futebolistas aqui do que em outras partes.
Por isso meu sentimento quando ouço que "o Brasil é um celeiro de craques" é de frustração e vergonha. Frustração por que este número deveria ser muito maior e de muito mais qualidade diante dos fatores acima. E de vergonha por ver que mesmo com todo este favorecimento o futebol ainda se arrasta profissionalmente no Brasil, mergulhado na imundice da corrupção, nos nossos ralos valores morais e quebradiço espírito.