Que a imprensa não é confiável todos já sabem. E não é de hoje. Quem leu Ilusões Perdidas de Balzac também sabe que este problema não tem cura, é inerente ao ser humano. Mas por aqui a coisa naturalmente fede mais, efeito natural numa nação podre construída por um povo que nunca passou por um processo civilizatório, e nunca passará. Na imprensa desportiva então nem se fala. Basta escutar um Neto, um Milton Neves, um Galvão Bueno, um Casagrande ou ler um Antero Greco ou Daniel Piza para entender o quão baixo a coisa pode chegar.
Quem leu hoje as notícias sobre o atacante Max acredita que ele é o responsável pela classificação do Boavista para as semifinais do Carioca. Falam dele como o destaque do time, outros o chamam de herói, alguns falam que ele ainda é do Palmeiras e está apenas emprestado ao Boavista (calma, isso não é verdade!) e um chegou a chamá-lo de menino Max, como se ali se encontrasse uma grande revelação. Fato é que esta "criança" que está completando 28 anos fez três gols na vitória por 5 a 3 sobre o glorioso Nova Iguaçu. Mas o que ninguém diz é que ele é reserva do Frontini (aquele mesmo!) e este foi o único jogo no qual ele começou jogando, antes havia entrando em outros dois jogos, sem marcar. Mas para os jornalistas o que conta é meia-verdade, aquilo que possa chamar atenção, ou ainda o quanto colocam na mão dele para dizer isso ou aquilo.
Recentemente aconteceu algo parecido com o folclórico Tindurim. Contratado para disputar a A2 pelo Palmeiras B, seu empresário mancomunou com os dirigentes palestrinos para utilizá-lo no televisionado Campeonato Brasileiro Sub-20. O locutor e comentarista da SporTV por debilidade profissional ou incentivo financeiro aproveitou o nome incomum do jogador para dar-lhe destaque na transmissão. Pouco importava que o seu futebol mostrado em campo fosse pífio, ambos não perdiam a oportunidade de dizer que ali estava uma grande revelação para o Palmeiras. A massa ignóbil repercutia a maravilhosa descoberta pelo Twitter e nos fóruns palmeirenses, afirmando tratar-se de uma grande promessa. Empresário e dirigentes não perderam tempo. Logo refizeram o contrato do jogador estendendo-o de maio deste ano, quando terminaria a A2 e o jogador seria avaliado, para 2014! Terminado o primeiro turno da A2 o Palmeiras está na zona de rebaixamento, Tindurim não fez nenhum gol e já foi para o banco de reservas. Nenhuma surpresa para um jogador dispensado dos juniores do Santos por deficiência técnica.
Outro dia um leitor do blog perguntava-me o que o dirigente ganha num caso destes acima. Na maioria das vezes é dinheiro vivo. Não pensem que é muito. Estes merdas se vendem por qualquer R$10 mil ou até menos. Os roubos de grande vulto estão no time principal. As divisões de base ficam com os ladrões de galinha. Noutros casos o dirigente recebe uma parcela dos direitos do jogador. Tudo bem podre e sórdido. Tudo com o jeitinho brasileiro de ser ou, neste caso, com o jeitinho italiano abrasileirado de ser.