1 de setembro de 2009

Segue a gestão temerária

Fechada a janela de transferências internacionais, e que pese a possibilidade de ainda haver negociações locais, vale apena avaliar como se saíram os dirigentes na prometida redução de custos no futebol anunciada ao final junho passado. A necessidade de redução de custo era, e continua sendo, óbvia: déficit de R$2 milhões por mês, lembrando que o Palmeiras apresenta déficit ano após ano e dívida crescente. Ao final de junho o time tinha Luxemburgo e 229 jogadores contratados, e hoje tem Muricy e 227 contratados. Houve redução de custo? Para responder esta pergunta é preciso analisar caso a caso:

  • A troca de técnico resultou em pequena redução de custo na comissão técnica. Muricy ganha 10% menos que Luxemburgo, e a saída do preparador físico Antônio Mello não foi reposta. Por outro lado o clube agregou mais um assessor de imprensa e manteve o incrível número de três assessores técnicos. Perdeu a chance de reduzir custos mais agressivamente, e continuou a inflacionar o futebol nacional pagando o maior salário a um técnico no país, valendo lembrar que Muricy ganhava R$250 mil/mês no São Paulo e ganha hoje R$450 mil mensais no Palmeiras.
  • No período em referência, de junho para cá, o elenco principal reduziu de 34 para 32 jogadores. Saíram Keirrison, Mozart, Jeci, Fabinho Capixaba e Max. Os inúteis Mozart e Jeci representaram boa redução de custo, principalmente o primeiro que ganhava absurdos R$140 mil mensais. Fabinho Capixaba e Max foram emprestados, mas a redução de custo é mínima, pois o Palmeiras segue pagando a maior parte dos seus vencimentos. Mas os R$120 mil/mês de Keirrison forma substituídos pelos R$400 mil/mês de Vagner Love, o que seguramente inflacionou os gastos do elenco principal independente das reduções acima. Este crescimento de gastos cresce mais ainda quando somamos as contratações de Figueroa e Robert, bem como os anunciados aumentos salariais de Diego Souza, Pierre, Cleiton Xavier, Maurício Ramos e até, pasmem, Sandro Silva. No final o elenco principal encareceu substancialmente, não melhorou em qualidade (Keirrison e Vagner Love se equivalem e pouco se espera de Figueroa e Robert) e segue inchado (23 jogadores se o ideal). Afinal o que justificou a renovação de contrato de Jefferson e Jumar? E a não liberação de Sandro Silva para o Internacional-RS? E a manutenção de Paulo Miranda no elenco? Em todos estes casos se visou mais os interesses da Traffic que os do clube. Os quatro poderiam sair sem prejuízo desportivo. Poderiam se juntar a eles o lateral Henrique, Lenny, o recém chegado Robert, e até Mauricio Ramos que acabou sendo contratado.
  • O número de jogadores emprestados subiu de 6 pra 9 atletas. Permaneceram emprestados Luis, Makelele, Thiago Gomes, Washington e William; e saiu o caríssimo Tiago Treichel (seu contrato finalmente expirou). E foram emprestados, além dos já citados Fabinho Capixaba e Max, Jorge Preá e o lateral direito Samuel dos juniores. A maior parte destes jogadores é subsidiada pelo Palmeiras e não houve redução de custo significativa aqui.
  • Foi no grupo dos jogadores encostados (ou seja, jogadores de mais de 20 anos – fora das bases – que não fazem parte do elenco principal não estão emprestados) onde houve a maior redução: em junho havia 22 atletas e hoje há 13 jogadores nesta situação. Além da passagem de Jorge Preá da condição de encostado para a de emprestado, os seguintes jogadores tiveram seus contratos expirados neste período: Marcelo Costa, Osmar, Edmilson Pantanal, Denilson, Ricardo e Deon. Os três primeiros representam uma boa redução de custo, já os três últimos faziam parte da vergonha Palmeiras B. As outras duas reduções, André Zuba e Reinaldo, talvez tenham demandado algum "esforço" dos dirigentes, visto que ambos tiveram seus contratos rescindidos.
  • As divisões de base apresentam um aumento de 164 para 171 jogadores assim divididos:
    Sub-20 – de 54 para 56 atletas
    Sub-17 – de 35 para 36 atletas
    Sub-15 – de 39 para 42 atletas
    Sub-13 – mantiveram-se 22 atletas
    Sub-11 – de 14 para 15 atletas
    O impacto de custo deste incremento de jogadores é relativamente nulo. O que chama minha atenção é o medíocre retorno obtido com o investimento de 171 jogadores contratados e 34 dirigentes / elementos das diferentes comissões técnicas. Fora isso é de destacar-se negativamente o elevando número de jogadores no sub-20 e a questionável validade do sub-13 e sub-11.
  • Finalmente, para fechar o número de contratados, mantiveram-se os dois "mortos", Alemão e Robson, e expirou o contrato do nome falso do atacante Cláudio (mas ele continua entre os encostados com o seu nome supostamente verdadeiro).

O mais provável é que o aumento de custo do elenco principal tenha superado as reduções de custo com a comissão técnica e jogadores encostados. Na melhor hipótese o custo se manteve e também o potencial déficit de R$2 milhões por mês. Esgotada as reduções de custo, a única forma de melhorar esta conta é com o aumento da receita. Porém não houveram muitas novidades neste sentido desde junho. Apesar de anunciado desde maio passado, o contrato de patrocínio nos calções ainda não vingou. Fora isso sobrou aumentar o valor dos ingressos e esperar por alguma inédita, e pouco provável, ação de marketing.

É pouco provável que o Palmeiras escape de apresentar um significativo aumento no déficit do futebol ao final deste ano. E isso é bastante preocupante. Afinal Belluzzóquio é famoso por sua incapacidade de gerenciar em um carrinho de pipocas. Íntimo de Sarney, cooperou com este no tenebroso Plano Cruzado. Antes já havia destruído com sua ideologia nefasta o que havia de ensino genuíno na Economia da Unicamp. E mais recentemente fez água na TV Brasil. Belluzzóquio só sabe mesmo é de marketing pessoal. Por onde passa capitaliza o que pode e depois deixa terra arrasada. É bom o clube abrir o olho.