27 de agosto de 2008

Escândalo na venda de ingressos

Infelizmente as suspeitas do absurdo que observamos nos guichês do Palestar Itália, o mistério da proporção de meia-entrada e outras aberrações que acontecem na venda de ingressos para os jogos do Palmeiras podem apontar para os próprios dirigentes.

Segue, na íntegra, artigo publicado hoje no Jornal da Tarde.

Ingressos: agora é guerra!
Briga entre clubes e fabricante de bilhetes vira caso de polícia, com acusações de falsificação, desvio de dinheiro, espionagem e escuta telefônica ilegal
Alex Sabino, Juliano Costa e Martín Fernandez

Está deflagrada uma guerra pelo controle da venda de ingressos no futebol brasileiro. Um mercado que movimentou cerca de R$ 120 milhões em 2007 e pode facilmente triplicar esse valor nos próximos anos, segundo a Casual Auditores. Escutas telefônicas, tentativas de chantagem, pelo menos dois inquéritos policiais e acusações de espionagem industrial, tudo isso faz parte do enredo.

No centro da história está a BWA, que vende ingressos de Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo, Flamengo, Fluminense, Coritiba e grandes clubes do Nordeste, além de entradas para shows, rodeios e outros eventos.Nesta semana, a empresa levou uma rasteira da CBF, que escolheu a concorrente Ticketmaster para a venda das entradas de Brasil e Bolívia, que será disputado dia 10 de setembro, no Engenhão, pelas Eliminatórias. A Ticketmaster já havia conquistado como clientes o Botafogo e o São Caetano. O Inter, outro ex-BWA, resolveu não renovar com a empresa e adotar um esquema próprio de confecção e venda de bilhetes.

Em São Paulo, nenhum clube está tão enredado nessa teia quanto o Palmeiras, cujo contrato com a BWA termina no fim deste ano. Na semana passada, Walter Balsimelli, sócio da empresa, teve longa reunião com Salvador Hugo Palaia, diretor financeiro, e Francisco Busico, tesoureiro do clube.

No encontro, Balsimelli apresentou um calhamaço de 600 páginas aos palmeirenses. Explicou que se tratava da transcrição de escutas telefônicas “autorizadas pela Justiça” e contou que funcionários do Palmeiras apareciam em situação constrangedora.“Se eles (BWA) acham que é assim que vão conseguir renovar o contrato com o Palmeiras, estão enganados”, declarou ao JT o presidente do Conselho Deliberativo, Seraphim Del Grande, que preferiu não falar em “chantagem”.

Desvio e falsificação
Existem pelo menos dois inquéritos policiais em andamento sobre tumultos na venda de ingressos em São Paulo. Uma das investigações começou a pedido da própria BWA, que acusa funcionários de desvio e falsificação de ingressos.

Teria partido da empresa a decisão de grampear os próprios telefones. O resultado dessas escutas é que teria sido mostrado a dirigentes do Palmeiras, como instrumento de pressão para renovar o contrato com o clube.

“Nos colocamos à disposição para colaborar nas investigações, inclusive nessa questão do grampo”, declarou Bruno Balsimelli, sócio de Walter na BWA.

O executivo confirmou a reunião do sócio com dirigentes do Palmeiras na quinta-feira passada, mas negou que tenha havido tentativa de chantagem. “O inquérito está na fase final. Vou provar na Justiça que é tudo mentira o que falaram da BWA.”

O JT ouviu três promotores e dois delegados que investigam irregularidades em venda de ingressos. Nenhum confirmou ou desmentiu a existência de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça. Mas todos estranharam o fato de a BWA ter cópia das transcrições.

Palmeiras na bronca
O clube instalou uma comissão interna para apurar irregularidades na confecção e venda de ingressos. “Chegamos ao cúmulo de colocar um fiscal atrás de cada bilheteiro”, contou ao JT o chefe da comissão, Gilto Avallone. “Temos sérias desconfianças sobre o quanto se vende de meia-entrada e sobre os ingressos devolvidos.”

No último domingo, quando o Palmeiras enfrentou a Portuguesa, as bilheterias do Palestra Itália e do Ginásio do Ibirapuera estavam fechadas, contrariando o que havia sido definido na semana anterior, em reunião com autoridades de segurança pública.

“Encontrei o (Francisco) Busico no Pacaembu e reclamei para ele de as bilheterias estarem fechadas”, disse Gilto. “O Walter Balsimelli, que estava ao lado do Busico, respondeu para mim: ‘Não admito que você denigra minha empresa, tenho documentos que podem acabar com o Palmeiras’.”

A bronca de parte da cúpula palmeirense aumentou ontem, quando se soube que clube, Federação Paulista de Futebol e BWA serão processados pelos tumultos ocorridos na final do Campeonato Paulista, entre Palmeiras e Ponte Preta, quando milhares de torcedores ficaram sem entradas.

Após uma frenética troca de e-mails entre diretores e conselheiros influentes, ontem à tarde, ficou decidido: se o clube renovar com a BWA, gente graúda como Seraphim Del Grande e Luiz Gonzaga Belluzzo irá para a oposição.