4 de julho de 2009

Traffic: balanço negativo

O balanço destes mais de dois anos de investimentos da Traffic no Palmeiras está longe do que eu esperava desta relação comercial. A utilidade de um investidor é viabilizar a contratação de jogadores que o time não dispõe de recursos para trazer. Ganha o investidor com o lucro em uma futura negociação expondo o atleta em um time de visibilidade como o Palmeiras, e ganha o time usufruindo os benefícios competitivos deste atleta contratado. Mas não é isso exatamente que acontece na relação Palmeiras – Traffic. Antes de elaborar sobre o tema recordemos as contratações feitas através da Traffic neste período:

  • Gustavo
  • Diego Souza
  • Henrique
  • Lenny
  • Sandro Silva
  • Jumar
  • Jefferson
  • Moacir
  • Paulo Miranda
  • Evandro
  • Maicosuel
  • Keirrison
  • Willians
  • Marquinhos
  • Cleiton Xavier
  • Ortigoza

Estes dezesseis jogadores apresentam situações bem diferentes e devem ser assim agrupados:

Contratações pertinentes: Apenas as contratações de Diego Souza, Henrique e Keirrison enquadram-se perfeitamente na utilidade do investidor que descrevi acima. O time não tinha condições de trazê-los e o investidor bancou a transação. Porém Henrique e Keirrison ficaram poucos meses no clube e não tiveram oportunidade de trazer o esperado retorno competitivo. Ganhou apenas a Traffic e não o clube nestes dois casos. Sobrou Diego Souza. Talvez apenas porque seu desempenho foi abaixo do esperado e, assim, não encontrou mercado lá fora tão rapidamente quanto os outros dois.

Contratação de potencial, mas nebulosas: Neste caso encontram-se Willians e Marquinhos. Ambos surgiram como promessas e eram caros. Mas a Traffic detém apenas um perceptual do passe destes jogadores. Tanto que o Palmeiras pagou pelo empréstimo de ambos: cedeu o passe do zagueiro Leonardo Silva (repassado pelo Vitória ao Cruzeiro) e emprestou Willian, Thiago Gomes e Washington. Um eventual lucro futuro da Traffic deveria ocorrer enquanto os jogadores estivessem no Palmeiras para o time faturar alguma coisa, e assim mesmo o lucro seria pequeno visto recair apenas sobre um percentual do valor do jogador. Tudo muito nebuloso. Ortigoza também vive a mesma situação, com o agravante de nunca ter demonstrado o potencial dos dois atletas oriundos da Bahia. Nestes casos o Palmeiras mais parece uma vitrine para atletas de clubes como Vitória e Sol da América-PAR.

Contratações indevidas: Todas as demais dez contratações não se justificavam. Foram uma combinação de jogadores inexpressivos e/ou cujos custos de aquisição não requisitariam um investidor, podendo ser bancado pelo próprio clube. Há casos escabrosos. Lenny representou um grande "chapéu" do Fluminense sobre os dirigentes do Palmeiras. O clube carioca ficou com Thiago Neves, empurrou o inútil Lenny e ainda faturou encima disto. Cleiton Xavier não custou nada. Zero. Porque trazê-lo via o investidor? Moacir e Paulo Miranda foram enfiando nos juniores e os únicos atletas "da base" que Luxemburgo deu alguma oportunidade no ano passado. Coincidência? Sandro Silva, Jumar e Jefferson eram jogadores obscuros, o que se explica por sua baixa qualidade, até que o Palmeiras o colocou na sua vitrine. Quem ganha com isso? Gustavo, Maicosuel e Evandro, passaram pelo time, pouco atuaram e já se foram sem nada deixar para o clube.

Como podemos ver, de efetivo mesmo, a Traffic apenas colocou Diego Souza no Palmeiras. Pois foi o único contratado de suposta qualidade que permaneceu um tempo mínimo no clube para dar retorno desportivo. É muito pouco. Mas o pior não é isso. O Palmeiras está repassando para a Traffic uma de suas mais importantes fontes de receita: a da venda de jogadores. Ao repassar seu patrimônio (elenco) ao "parceiro", o clube está entrando em um ciclo vicioso que pode trazer conseqüências catastróficas. As dificuldades financeiras levam à Traffic, o elenco é transferido ao investidor e isso reduz a receita do time e, assim, ficamos cada vez mais dependentes deles. Alguns mais afoitos podem argumentar que o Palmeiras também faturou com as vendas de Henrique e Keirrison. É verdade, mas vejamos isso dentro da perspectiva correta. O clube faturou menos de R$8 milhões com estas vendas. Isto é menos do que o time faturou com a venda de Michael, um meia limitado que era do próprio clube. Até a venda do fraco lateral Lúcio foi mais valiosa para o Palmeiras que a de Keirrison. Estes dois exemplos, Michael e Lúcio, são frutos da calamitosa gestão de Mustafá. Imagine o que o clube poderia faturar com uma gestão honesta e competente, buscando contratar e revelar jogadores dentro das condições do clube. Seguramente muito mais do que entregar-se a Traffic.
Enquanto isso a Traffic nada de braçada. Apenas com Henrique e Keirrison lucraram R$36 milhões, já descontadas as migalhas do Palmeiras. Este lucro é muito maior que os investimentos requeridos para trazer os outros quatorze atletas que ela colocou no Palmeiras. Daí ser hilário ouvir um executivo da Traffic dizer que eles não tem lucro com o Palmeiras.

A obviedade disto tudo leva a pergunta sobre qual a vantagem que os dirigentes percebem com a Traffic. Afinal, além de dominar o elenco, o investidor também já está metido nos direitos de imagem do time (o DVD do título paulista não saiu em virtude de divergências de valores com a Traffic) e importantes receitas da desejada futura arena. Será que os dirigentes são tão incompetentes que precisam da Traffic para gerir tudo? Ou são muitos "espertos"? As próximas ações dos dirigentes responderão estas perguntas.