É muito comum ouvir explicações de que a pobreza do futebol brasileiro está diretamente relacionada ao nosso baixo PIB (Produto Interno Bruto). Lembro até de uma discussão acalorada no programa “Bem, Amigos!” (SporTV) onde Luxemburgo e Galvão Bueno afirmavam exatamente isso. Achei curioso que dois dos maiores salários do Brasil construídos exatamente encima do futebol, e altíssimos em qualquer padrão mundial, falassem aquilo.
Sem dúvida o PIB brasileiro é inferior ao dos países com uma forte liga nacional de futebol. Obviamente fala-se de PIB per capita como referência ao poder aquisitivo da população ou, neste caso, torcedores. Veja esta comparação abaixo:
De fato o poder aquisitivo do torcedor inglês e francês é mais de 6x maior que o do brasileiro, e o do português é 3x maior.
Porém esta comparação diminui bastante quando introduzimos duas correções. A primeira refere-se ao Parity Purchase Power (PPP – índice de correção do valor conforme o poder aquisitivo da moeda com referência a um conjunto de produtos e serviços). Isso permite comparar o real poder de compra daqueles dólares em cada país. E a segunda correção é transportar a comparação de países para cidades, afinal o time está muito mais associado a uma cidade do que ao país como um todo.
Aí vemos que o londrino tem poder aquisitivo 2x maior que o do paulistano, e os torcedores de Milão, lar dos poderosos Milan e Internazionale, têm poder de compra apenas 24% maior do que o dos nossos torcedores. E lembre-se que São Paulo tem uma população de quase 18 milhões ao passo que Milão tem pouco mais de 4 milhões de habitantes, e Munique e Lyon não chegam a 2 milhões de habitantes. É apenas natural que os principais clubes no Brasil (e no mundo) tenham suas bases em cidades mais ricas. Os grandes clubes de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e outras capitais e até algumas cidades do interior tem padrão de consumo mais que suficiente para sustentar um clube internacionalmente competitivo e lucrativo.
Portanto falar que o futebol brasileiro é pobre apenas em função do baixo poder aquisitivo de seus torcedores é enganoso e esconde os reais problemas. Afinal, vemos empresários fazendo fortunas, técnicos ganhando salários de 6 dígitos depois da vírgula, e dirigentes engalfinhando-se pelo poder de posições “não assalariadas” por alguma razão. E esta razão é que há muito dinheiro no futebol brasileiro. E poderia haver muito mais se os dirigentes trabalhassem para explorar os diferentes segmentos de poder aquisitivo dos nossos torcedores.
O que falta ao futebol dos grandes times, e entre eles o Palmeiras, é uma administração competente e honesta. É preciso acabar com o conluio entre dirigentes, técnicos e empresários que só buscam enriquecer à custa das finanças dos clubes e do entretenimento dos seus torcedores.
É triste ver os empresários mandando nas divisões de base do Palmeiras, ver Luxemburgo e Mano Menezes arrotarem na cara de todos que é normal a relação de técnicos com empresários na definição dos elencos, assistir a Traffic usar o Palmeiras para valorizar jogadores que o clube poderia ter contratado diretamente, e tudo isso nas fuças dos coniventes dirigentes.
Por isso cada vez mais vemos brasileiros curtindo jogos da liga inglesa, italiana e espanhola, e está ficando comum ver garotos usando orgulhosamente as camisetas de clubes europeus. Enquanto isso os que militam no nosso futebol inventam desculpas ao invés de trabalharem honestamente.