Apesar da atual terceira colocação na Série A, o time do Palmeiras não empolgou neste primeiro turno. Dá para contar nos dedos de uma mão o número de vezes que a equipe repetiu a consistência e força demonstradas na arrancada do título paulista.
Fora de casa o time venceu apenas duas vezes, contra o Vasco e Ipatinga que estão na zona do rebaixamento. Em ambas partidas o time não foi brilhante, sendo que contra o Ipatinga apenas Valdivia atuou bem, levando o time a vitória.
Já em casa o time segue invicto com excelentes números: 8 vitórias e 1 empate. Mas destas 8 vitórias destacaram-se apenas as atuações contra Cruzeiro, Fluminense, Santos, Flamengo e Vitória.
Apesar da retórica de Luxemburgo em ver evolução do time, a verdade é que o desempenho da equipe caiu na fase que ele considerava mais importante e para qual dizia ter feito um planejamento especial, com direito até a passar uma semana em Itatiba antes do jogo inicial desta tal fase diante do Atlético-MG. O planejamento falhou: nos oito jogos iniciais deste primeiro turno o time teve um aproveitamento de 66.7% dos pontos disputados, a partir do jogo com o Atlético-MG este aproveitamento caiu para 54.5%. Ou seja, mesmo com a ressaca do título regional o time atingiu melhores resultados no início da Série A, mas depois caiu de produção.
O que aconteceu? Por que o time não conseguiu manter o nível que atingiu no Paulistão?
Para começar, o time perdeu consistência na defesa. A saída do Henrique, seguida das contusões de David e Gustavo e as arriscadas contratações de Gladstone e Jeci desestruturaram totalmente a defesa. Vejo aqui uma mistura de falta de planejamento e azar. Falta de planejamento ao não se preparar uma reposição adequada para Henrique, e azar com os problemas clínicos simultâneo dos outros dois zagueiros.
Para piorar a questão do miolo da zaga, o time começou a ter seguidos problemas com desfalques por contusão de seus volantes. Pierre, Léo Lima e Martinez ficaram em diversas ocasiões fora de combate. As ausências, principalmente, de Pierre e Léo Lima deixam a defesa mais desprotegida. Também os alas estiveram ausentes em algumas partidas, principalmente Élder Granja por problemas jurídicos. Ficou claro que os volantes e alas reservas não estão a altura dos titulares. Fabinho Capixaba, Jefferson, Sandro Silva e Jumar foram contratações de risco que ainda não mostraram a que vieram. Apesar do discurso de Luxemburgo em motivar estes jogadores, ou esquentar a mercadoria, afirmando que o time “encorpou com a entrada de Sandro Silva e Jumar”, a verdade é que o time obteve aquelas três vitórias seguintes (Flamengo, Ipatinga e Vitória) graças as atuações de Valdivia. Os dois volantes acima citados mostraram mau posicionamento defensivo e dificuldades em municiar o ataque. Sandro Silva foi melhor que Jumar, com direito a dois belos gols, mas defensivamente não se posiciona bem. Nota-se que os quatro reservas citados foram contratações feitas neste segundo semestre.
Outro problema foi a repetitiva indisciplina de Valdívia e, principalmente, Kleber. As decorrentes suspensões e, conseqüentes ausências, são problemáticas em função da falta de reservas eficazes. Nenhum dos meias no elenco se compara a Valdivia e os três atacantes reservas, Denílson, Lenny e Preá, são risíveis. Luxemburgo em nenhum momento conseguiu disciplinar estes dois jogadores e está, junto com eles, devendo nesta questão. Talvez até esta falta de substitutos não ajude a que estes dois jogadores se enquadrem na postura profissional exigida, o que não os desculpa em nada.
Aí está a diferença com relação ao time que ganhou com folga o regional: desfalques seguidos que não ocorreram no Paulistão e perda do nosso melhor zagueiro (Henrique). Apesar do discurso em moda, a verdade é que a qualidade do elenco é limitada a linha titular e os reservas não correspondem as necessidades da competição. Comparem os 12 titulares do Paulistão (a esquerda – já sem Henrique) com seus reservas (a direita):
Marcos – Bruno Cardoso
Élder Granja – Fabinho Capixaba
David – Jeci
Gustavo – Gladstone – Maurício
Leandro – Jefferson
Pierre – Sandro Silva – Wendel
Léo Lima – Jumar
Diego Souza ou Matinez – Maicosuel
Valdivia – Evandro – Deyvid
Kleber – Denílson – Lenny
Alex Mineiro – Jorge Preá
A diferença é monstruosa... imaginem o seguinte time em campo: Bruno, Capixaba, Jeci, Gladstone e Jefferson; Sandro, Jumar, Maicosuel e Evandro; Denílson e Preá! Pobre da boa promessa Bruno Cardoso, pois quanto ao restante é questionável se pode vestir esta camisa. O Palmeiras não tinha um bom banco no Paulistão, mas não precisou dele. Agora que naturalmente está e vai seguir precisando o problema aparece, e as oito contratações do segundo semestre (acima em itálico) em nada mudaram esta realidade, talvez apenas para pior. Também chama atenção a não contratação de nenhum novo atacante de qualidade neste segundo semestre, até pensando no fato de Alex Mineiro e Kleber terem contrato somente até o final do ano e podem não estar no elenco em 2009. Onde está o decantado planejamento?
Diego Cavalieri e Henrique já forma embora e corremos o risco de Valdivia também pular a “janela” que está aberta até o fim deste mês. E Luxemburgo afirma em entrevistas que o elenco já conta com o substituto do Valdivia, ou seja, não se antevê novas contratações para este Brasileiro. Caso o Valdivia seja mesmo negociado o time corre sério risco de não atingir suas metas de conquistar o título e, ao menos, classificar-se para a Libertadores.
Espero que a diretoria segure a estrela do time, que Luxemburgo enquadre os indisciplinados, e que a sorte ajude para que não haja demasiados desfalques por contusão. Assim o time terá chances reais de título, até porque todos demais concorrentes também têm seus problemas e limitações. E que para o próximo ano se melhore o planejamento do elenco, e assim não precisar mais contar com o fator sorte acima.